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SABIA QUE...

 

René Descartes (1596 -1650) foi um dos maiores filósofos, físicos e matemáticos da Idade Moderna. Também conhecido como Renatus Cartesius, notabilizou-se sobretudo pelo seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento enquanto matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria - facto que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome. O seu trabalho serviu, igualmente, de base para os cálculos de Newton. Chamado de "fundador da filosofia moderna", é considerado um dos pensadores mais importantes do mundo ocidental. Inspirou contemporâneos e várias gerações posteriores de filósofos, sendo que grande parte da filosofia escrita a partir de então foi uma reacção às suas obras ou resultou da sua influência sobre outros autores. Vários especialistas afirmam que, a partir de Descartes, inaugurou-se o movimento filosófico conhecido como «racionalismo»  (para mais sobre este assunto, vide a obra de Bertrand Russell, "History of Western Philosophy"). Por isto tudo, é considerado uma figura-chave da História.

 

De origem francesa, formou-se em Direito em 1616, atendendo, assim, a vontade do seu pai,  contudo nunca chegou a exercer a profissão. Em 1618 viajou à Holanda, onde se alistou para combater, ao lado dos soldados holandeses, as tropas espanholas naquela que ficou conhecida como a "Guerra dos trinta anos". Nessa ocasião, conheceu e ficou amigo do médico Isaac Beeckman, que o influenciou a estudar matemática e física. Em 1621, Descartes acaba por renunciar definitivamente à carreira militar que, inicialmente, pretendia seguir, optando assim por desenvolver o estudo sobre Matemática, Astronomia e Óptica.

 

Em 1629, começou a redigir o "Tratado do Mundo", uma obra de física na qual aborda a sua tese sobre «heliocentrismo». Porém, a condenação de Galileu pela Inquisição em 1633, determina Descartes a abandonar o seu plano de publicar o trabalho. Nos anos seguintes, produziu três pequenos tratados científicos: "A Dióptrica" (abordava o tópico da luz, da visão e dos meios artificiais de aumentar a visão humana), "Os Meteoros" (dividem-se em dez discursos sobre uma variedade de tópicos: corpos terrestres, a natureza do sal, ventos, nuvens, arco-íris, neve e granizo e alguns outros fenómenos), e "A Geometria" (em que são tratadas várias noções matemáticas e teorias geométricas). Mas  foi o prefácio destes ensaios que lhe garantiu o devido reconhecimento: "O discurso do método", uma obra de 1637, disponível para consulta na Biblioteca da Faculdade de Direito de Lisboa, através de oferta do Prof. Bibliotecário, Doutor Miguel Teixeira de Sousa, na cota H0101-566. Na sua versão completa "Discurso sobre o método para bem conduzir a razão e buscar a verdade nas ciências", tinha como intuito anunciar/noticiar e explicar o método que seria adoptado nos três ensaios. Originalmente, traria um título diferente - tal como nos revela o autor Tom Sorell - demasiado longo: "Plano para uma ciência universal capaz de elevar a nossa natureza ao mais alto grau de perfeição". Este tipo de discurso tinha como objectivo alcançar os "não-instruídos", em que o autor expõe os métodos aplicados nos ensaios. Trata-se, aparentemente, de uma autobiografia, mas bastante incomum visto ter sido publicada (juntamente com os ensaios) de forma anónima. O Discurso propõe um modelo quase matemático para conduzir o pensamento humano, uma vez que a matemática tem por característica a certeza, i.e. a ausência de dúvidas. Foi através do seu discurso (Parte IV, primeiro parágrafo) que Descartes proferiu as famosas palavras: "eu penso, logo existo" (contudo a versão mais correcta e fiel à tradução seria "eu penso, logo sou", uma vez que, no cartesianismo, "ser" e "existir" são duas noções completamente diferentes). Foi precisamente nesta obra que também surgiu a frase motivacional desta semana. Afirmava o autor, numa versão em inglês:

 

"I did not, however, cease to hold in high regard the academic exercises with which we occupy ourselves in the schools. I knew that the languages learned there are necessary for the understanding of classical texts; that the charm of fables awakens the mind; that the memorable deeds recounted in histories uplift it, and, if read with discretion, aid in forming ones judgment; that the reading of all good books is like a conversation with the most honorable people of past ages, who were their authors, indeed, even like a set conversation in which they reveal to us only the best of their thoughts."

 

A célebre frase acabou por ficar conhecida como "finest minds" em vez de "honorable people" e "ages" foi substuído por "centuries". Em português seria: "ler todos os bons livros é como ter uma conversa com as mentes mais ilustres dos séculos passados".

 

Para averiguar mais sobre o Discurso de Descartes, consulte igualmente a obra em versão portuguesa de Tom Sorell, "Descartes".

 

Em 1641, é publicada mais uma das suas obras imponentes, desta vez de natureza filosófica e metafísica: "Meditações metafísicas", também conhecida como "Meditações sobre a filosofia primeira", disponível para consulta na BFDUL na cota H0101-665. O tratado é composto por seis meditações nas quais o autor pretende demonstrar, como o subtítulo indica, a existência de Deus e a distinção real entre a mente e o corpo.  A expressão acima mencionada foi retomada na segunda meditação, desta vez porém em latim e com um novo sentido: "ego sum, ego existo" ("eu sou, eu existo", aproximando-se assim da actual versão). Apenas em "Principia Philosophiae" de 1644 a proposição em latim, outra vez expressada pelo autor,  toma o mesmo sentido que em francês (je pense, donc je suis): ego cogito, ergo sum.

 

Para saber mais sobre o autor, visite também o seu perfil online na Enciclopedia Britannica.

 

 

 

Retrato de Frans Hals, em 1648

Folha de rosto da 1ª edição do Discurso sobre o método

Correspondência original de Descartes, datada de Dezembro de 1638, disponível no Musee des Lettres et Manuscripts, Paris

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